Recordar...
Ao fazer uma análise sobre a história de minha vida, normalmente recordo os amigos de infância e das brincadeiras que mais gostava, a primeira paixão, o primeiro beijo, o primeiro namorado, enfim quando questionada sobre o meu passado, raramente reflito sobre a vida no ambiente escolar, a longa e muitas vezes interminável trajetória em busca do conhecimento. Os professores, as disciplinas que mais me identificava, as varias indecisões que volta e meia pairavam em meu pensar a respeito do futuro profissional que almejava, quantas vezes me peguei a pensar qual seria a minha "vocação", ou quais áreas que teria mais afinidades. Será humanas? Ou exatas? ou quem sabe a biológica, porém estes anseios foram e são a minha "força Propulsora" para chegar atualmente nesta graduação.
E ao compartilhar estas lembranças, farei juntamente aos leitores deste texto, uma breve análise desta minha difícil, porém prazerosa caminhada em busca do aprendizado. Esta minha trajetória não se inicia como a da maioria dos estudantes; dentro de uma escola, na sala de aula com a presença da professora --- naquela época, este período chamava-se de pré-escola ou carinhosamente prezinho, não sei se a denominação mudou mas era assim que chamava na época, pois bem, a minha primeira professora era diferente das outras, ela não possuía mais do ensino fundamental, mas apesar disso, tinha algo de especial em seu jeito de ensinar, através do seu empenho para que o meu futuro se diferenciasse do dela. A pessoa na qual me refiro chama-se Dona Cicera, minha mãe, foi com ela que dei os meus primeiros passos para a escrita e a leitura. Fui praticamente alfabetizada em casa, apesar da sua pouca escolaridade minha mãe sempre buscou o conhecimento através da leitura de vários textos e com seu exemplo ela despertou em mim o gosto pela leitura.
Lembro-me dos gibis e livros infantis e do primeiro livro que ganhei quando já tinha um discreto domínio da leitura; Infância de Graciliano Ramos, além dos vários cadernos de caligrafia, todo este aparato permitiu a minha entrada no ensino básico com seis anos de idade (antes era exigido a idade mínima de sete anos completo para o ingresso ao primeiro ano do ensino básico) lembro desta fase com carinho. Minha primeira professora era até de nacionalidade portuguesa, muito carinhosa seguindo as características comuns aos professores da alfabetização, desta maneira tentava introduzir a leitura no cotidiano de seus alunos bem como a produção dos primeiros textos --- normalmente com assuntos do dia a dia do universo infantil, da mesma forma as demais professoras deste período seguiam o mesmo padrão de ensino.
Seguindo minha jornada me deparei com uma situação muito comum nas escolas públicas brasileiras, as temidas greves, porém um fato um tanto inusitado ocorreu durante este período e que ficou guardado em minha memória. Uma professora, que ensinava na disciplina de língua portuguesa, foi a única professora que não aderiu ao movimento grevista. Ela ia religiosamente a escola para cumprir seu papel de educadora como ela própria dizia ao ser questionada sobre a sua não adesão à greve, em suas aulas ela tentava passar a importância da leitura para produzir alguns textos e admito não encontrei facilidade apesar de apreciar a leitura, e foi através de suas atitudes, que guardo sua imagem e seus ensinamentos, apesar de infelizmente não recordar o seu nome.
Apesar de possuir bons professores na disciplina de língua portuguesa, não foram exatamente estes profissionais que me instigavam a leitura e a produção de textos durante este processo de aprendizado. Percebi que durante o período, tanto no ensino fundamental quanto no médio, os professores das disciplinas como literatura e histórias traziam a leitura de variados textos para a sala de aula, fazendo despertar o senso crítico sobre os diversos assuntos que permeiam estas disciplinas. Recordo-me de um professor que lecionava história e tinha um jeito peculiar de ensinar o que fazia de suas aulas um diferencial, proporcionando leitura de textos e até livros principalmente de autores nordestinos como próprio Graciliano Ramos , Jorge Amado entre outros e isso nos incentivavam como alunos a questionar sobre o assunto discutido em sala de aula, nos levando a ter uma visão mais crítica.
Bom, após a conclusão do ensino médio, devido a problemas muito comuns as famílias das classes sociais mais baixas, demorei a dar continuidade aos estudos, contudo o desejo de chegar a uma graduação não se desfez, aumentando com o passar do tempo.Na minha primeira oportunidade entrei numa faculdade particular no curso de enfermagem, pois tinha uma certa paixão pela profissão, porém quando iniciei a vida acadêmica neste curso percebi que não era exatamente o que pensava, decidi, portanto, trancar o curso.
Até que mais tarde uma nova possibilidade se efetivou sendo decisiva para a escolha da atual graduação em letras. No entanto, até chegar a esse curso ingressei em Serviço Social também em uma instituição de ensino particular e foi através deste curso que me apaixonei pelas áreas de Filosofia, Sociologia, Antropologia que para serem compreendidas é necessário uma leitura mais atenta, mais elaborada; livros filosóficos como Karl Marx, Rousseau, Hobbies entre outros e isto me fez perceber a necessidade de estudar mais a fundo a história da língua portuguesa e suas aplicações principalmente na elaboração de bons textos, por que é difícil produzir textos coerentes, ler é importante , mas exercitar a compreensão e a produção nos ajuda a redigir com mais facilidade e foi através desta necessidade que escolhi o curso de letras e sinto que realmente é a graduação que completa e a tranquiliza os meus anseios.
Devido a esta trajetória cheias de desafios e obstáculos, foi possível encontrar bons professores que muitas vezes passam por complicadas situações e mesmo diante das inúmeras dificuldades conseguem, na medida do possível, exercer brilhantemente seu papel. Estes profissionais são a base para todas as outras profissões. Há uma frase que guardo até hoje dita pela minha primeira educadora, minha mãe, "o conhecimento é a única coisa que jamais alguém vai tirar ou roubar de você, os nossos estudos são os nossos maiores tesouros", sabiamente guardei comigo e procuro seguir como meu guia.